Sob o olhar de um palhaço

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domingo, 12 de setembro de 2010

O Espantalho

Inverno,

Madrugada fria,

A grama do campo coberta por gelo...

...e ele já está de pé

Veste pouca roupa

Bem surrada

Um chapéu velho de abas largas

Que escondem parte do seu rosto

Parece tão triste e solitário

Mas tem a companhia dos cães e pássaros



Inverno,

Meio dia,

A grama do campo está agora apenas úmida...

...e ele continua lá

Sempre de cabeça baixa

De poucas palavras

Na verdade apenas sons

Como os de um ranger de dentes

Está descalço,

Parece nem se importar

Acho que ele está esperando por alguém que não virá



Inverno,

Fim de tarde,

A grama do campo está castigada

Da geada e dos cascos dos cavalos que por ali pastavam...

...será que ele não vai pra casa

O céu começa a dar sinais de fúria

Nuvens negras trazem a noite mais cedo

E com ela as primeiras gotas

Até dá pra ouvir a sinfonia dos ventos

E ele ainda está lá



Com os braços abertos

O que me parece

É que ele está fazendo uma prece

Pra quem sabe alguém lhe ajudar

Seu nome é Espantalho,

Mas ele não é de pano, de feno e nem de galhos

Tem um coração



Vive no alto de uma colina

E hoje, já fazem três meses

Que todos os dias

Repetidas vezes

Ele segue a mesma rotina

Parece estaqueado na terra

E sem se mover ele espera

Que um dia o seu único filho,

Retorne vivo da guerra.










(Alex Cruz, de "O Grande Circo Sem Lona Dos Nossos Dias: para os doidos, malucos e loucos, para os românticos, para os felizes".)

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