Sob o olhar de um palhaço

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quarta-feira, 23 de março de 2011

Onde anda a fé que eu esquecí?

De dentro do Aquário,
entre um gole e outro de café,
compartilhava o meu silêncio,
enquanto procurava a minha fé.

O meu rosto refletia no vidro,
e do outro lado eu observava um mendigo,
pobre mendigo nobre,
pobre, somos nós,
somos tantos,
e mesmo assim por horas conseguimos nos sentir sós.

Um menino de chapéu azul lhe dá um sorriso,
o mendigo retribui,
eles até parecem amigos.
Enquanto uma senhora que vendia seus bordados,
mesmo sentada, seguia sua vida em frente.
E a gente?
que sempre passa apressado, estressado, cansado,
acostumado com aquela cena,
até parece tão pequena.

O mendigo se agaixa,
desfaz e refaz o nó de um de seus sapatos,
o do pé esquerdo, que no direito está calçado.
São dois, são dois os pés direitos,
um marron e o outro preto,
mesmo assim o mendigo dá o seu jeito.
Veste calças ao avesso,
não possui documento, endereço,
mas nem por isso deve-lhe faltar respeito.

Tomo o meu último gole de café,
e ao mesmo tempo, o mendigo fica em pé,
não pede trocados, troca, sorrisos,
e quando alguém o retribui, ele diz obrigado,
pobre mendigo nobre, ainda é educado.

Com minha xícara ja vazia,
eu brinco com a pequena colher,
mexendo o nada,
e ainda sem fé.
Paralizado eu o observava,
então, ele pega nas patas dianteiras do seu cão e começa a dançar.
Não há som, a canção, parece vir do seu próprio silêncio,
todos o observam, alguns param e até tiram fotos,
outros não toleram, nem entendem,
até o chamam de louco varrido,
mesmo assim ele continua,
e agora responde, inesperadamente...
...ele vomita poesia, daquela barriga vazia.

Do outro lado do vidro eu não o ouví,
mas então entendí,
que alí, naquele mendigo andava,
a fé,
que um dia esquecí.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Vampiros

Somos feito bonecos de cera,
derretendo a luz do sol
Nos tornamos o câncer do planeta,
somos a doença
E quando a cura aparecer?
Você sabe o que pode acontecer?


Há um imenso buraco no nosso teto,
somos restos guardados a céu aberto
Ainda não acabou,
mas, até onde vamos?

sexta-feira, 18 de março de 2011

domingo, 7 de novembro de 2010

Noturno


É mês de Agosto
Ninguém nas ruas
A neblina cobre o meu rosto
A luz da lua
Translúcida
Feito néon em vidro fosco
As pedras cantam
Umedecidas
Presas nas solas dos meus sapatos
Minhas mãos congelam
No bolso velho
Do jeans que eu comprei no ano passado

Noturno,
Gritos que ecoam de um poeta mudo
A bailarina gira no teatro escuro
Um nômade a procura de um lugar seguro

Um cão sem dono
Perturba o sono
Das pessoas em suas casas
A cara suja da inocência
Mendiga em plena madrugada
Falsos profetas
Um anticristo
Blasfêmias na porta de uma igreja
Te encontro nas escadarias sujas
Talvez pela manhã eu nem a veja

Os anjos voam no teto da catedral
Eu vejo as luzes no relógio do mercado central
Poesia urbana escrita no cais do porto
O silêncio da noite é a música para a dança de um louco



domingo, 31 de outubro de 2010

Teatro de Fantoches


Quantas vezes me enganei
Com os tombos aprendi
Não vou mais ouvir ninguém
Sempre te idealizei
Em histórias que eu criei
De um amor que eu não vivi
Agora que você me fez sorrir
Vamos nos permitir
Me importa o que possa acontecer
Eu esperava por você

Não vou mais me sufocar
Não consigo disfarçar
O que eu sinto, ta na cara
Sempre me preocupei
Em não machucar ninguém
E agora, o que eu colhi
Mais eu não vou desistir
Você me faz feliz
Paciência, não quero ser mais um normal
Apenas um fantoche
No teatro da vida real

Meu desespero, minha loucura
Você é minha cura
Algo proibido
Um sentimento bandido
Feito o segredo de um melhor amigo
Te fotografo, pra te enxergar
De olhos fechados
Naquele beijo interminável
O teu gosto eternizado


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Por Viver

É sempre assim, quando você chega perto de mim, fico inseguro
Você sorri e me desarma, feito uma criança, me sinto imaturo
Tento disfarçar os meus desejos e até minto pra mim mesmo
Que eu não quero o teu beijo
Mas o que seria do meu amanhã?
Acho até que eu tentaria me recompor
E certamente sem você
Seria só viver por viver
No teu olhar eu não encontro as respostas
Pras coisas que eu quero entender
O teu jeito certinho e o meu all star de botas
Não combinam em nada mais fazer o quê?
Se eu tento disfarçar os meus desejos e até minto pra mim mesmo
Que eu não quero o teu beijo
Mais o que seria do meu amanhã?
Acho até que eu tentaria me recompor
E certamente sem você
Seria só viver por viver